quinta-feira, setembro 28, 2006

30-09-06 / 15 h - Cordel no Instituto Ricardo Brennand


Sétima Edição do "Projeto Peça a Peça" - Leda e o Cisne

O projeto Peça a Peça tem como proposta, aprofundar os estudos alusivos a obra escolhida (pelo público), diversificando a temática por ela abordada nas várias linguagens da arte. O trabalho é desenvolvido pelos arte-educadores do IRB visando agregar de forma especial, a peça escolhida, nos aspectos históricos, artísticos e técnicos além de interagir com público através de debates e apresentações artístico-culturais.
Repetindo a fórmula das edições anteriores, as crianças poderão participar de uma Oficina de Gravura em Gesso, enquanto os adultos participam do debate no auditório, que será conduzido pelo historiador Albino Dantas e pelo cordelista e pesquisador de poesia popular José Honório da Silva, além da audição de peça musical de Wagner, executada em um harmônio (instrumento inglês do século XIX).
O evento tem caráter filantrópico e estará recebendo doações para a CAMPANHA DO QUILO. (Informações: 2121-0352)

terça-feira, setembro 26, 2006

O Novo Código Civil ...



Peço a Buda que energize
Meu coração, minha mente
Fazendo com que os versos
Me cheguem qual num repente
Montados na liberdade
De quem quer brincar somente.


Que eles não tragam mágoa
Só riso, graça e alegria
Despertando em quem os lê
Esse encanto, essa magia
Que somente se revela
A quem ama a poesia.


Marieta dos Prazeres
De Igarassu Belforte
Era o nome de solteira
De uma mulher de sorte
Que teve a sina de ter
Murilo por seu consorte.


Murilo Fuji Kaneko
Um japonês de respeito
Com esse seu sobrenome
Não vivia satisfeito
Por causa das brincadeiras
De um ou outro sujeito.


Por causa do tal Kaneko
De vez em quando brigava
Bastava que alguém sorrisse
Quando ele se apresentava
Murilo perdia a calma
E com o outro se enfezava.


Já no tempo de menino
Nosso Murilo se enchia
Com os gracejos do povo
Que o tempo todo queria
Mexer com o Kaneko dele
E isso lhe aborrecia.


Sabendo as mudanças do
Nosso Código Civil
Que passaram a vigorar
Neste ano no Brasil
Um famoso advogado
Murilo constituiu.


Porque agora é possível
Que se o homem quiser
Pode com o casamento
Se assim lhe convier
Adotar o sobrenome
Da família da mulher.


Usar esse benefício
Ele já imaginara
E ao saber que esta causa
Não seria muito cara
Pediu ao Doutor João Campos
Que desse entrada na Vara.


La na Vara da Família
O doutor fez petição
Deu entrada no processo
Pra fazer alteração
De Kaneko pra Belforte
E aguardou a decisão.


O Juiz Ricardo Braz
Que da Vara estava à frente
Fez a lida do processo
Considerou procedente
E marcar uma audiência
Ele achou conveniente.


Intimou o requerente
E seu cônjuge legal
Para a citada audiência
No fórum da capital
Então no dia marcado
Lá estava o pessoal.


Doutor João Campos Bezerra
Ao lado do seu cliente
Murilo Fuji Kaneko
Já um tanto impaciente
Com a mulher, Marieta
Que também se fez presente.


Logo chegou o juiz
Um senhor meio marreco
Mas na hora que falava
Na sala se ouvia um eco
E foi logo perguntando:
- Não gosta do seu Kaneko?


Murilo disse: - Doutor
Gostar mesmo, a gente gosta
Mas o povo gréia muito
Inda mais se dou as costas
E por causa do Kaneko
Confesso, fiz muita bosta.


É que o meu pavio é curto
Como é comum no Japão
Quando o povo tira onda
Eu esquento o cabeção
Vou logo pro caratê
Sem pedir satisfação.


Doutor Ricardo insistiu:
- Eu entendo a sua queixa
Mas, e a família Kaneko
Já perguntou se ela deixa?
E o seu pai concorda que
Com seu Kaneko se mexa?


- Este Kaneko eu herdei
De meu pai, eu sei bem disso
Honrá-lo por toda vida
Sei que tenho o compromisso
Mas é meu, faço o que quero
Ninguém tem nada com isso.


Depois de ouvir o Murilo
Disse aquela autoridade:
- E a Senhora Marieta
Fale com sinceridade
Dar seu Belforte pra ele
É mesmo sua vontade?


- É sim, doutor meritíssimo
O senhor fique tranqüilo
É tanta zona que até
Eu de vez em quando estilo
Quando o povo brinca com
O Kaneko do Murilo.


A partir dos argumentos
E dos aspectos legais
Concordou com a mudança
O Doutor Ricardo Braz
E pra o antigo Kaneko
Murilo nem liga mais.


Agora sem o Kaneko
Murilo vive feliz
E quando ainda acontece
Que um filho de meretriz
Vem gozar com seu Kaneko
Murilo nada lhe diz.


Só não sei o que é que acha
A tal numerologia
Sobre a troca aqui contada
Talvez se saiba algum dia
Mas parece que foi bom
Ao menos pra poesia.


FIM

sábado, setembro 09, 2006

O Retrato do Turista




Viajo pra conhecer
A cultura dos lugares
Sua história, seus costumes
Seus artistas populares
Seus encantos naturais
Seus fatos peculiares.


Posso vir de muito longe
Até mesmo do estrangeiro
Falar uma língua diferente
Ou então ser brasileiro:
Sergipano, capixaba
Amazonense, mineiro...


Seja lá de onde eu for
Careço ser respeitado
Com um sorriso espontâneo
Ser acolhido e tratado
Receber um bom serviço
E estar bem orientado.


Quer eu chegue aqui em grupo
Ou então venha sozinho
Quer saia de outro país
Ou de estado vizinho
Quero beleza e emoção
Muito respeito e carinho.


Eu venho atrás de descanso
De aventura, de lazer
Por isso quando eu chegar
Na cidade eu quero ter
Opções as mais diversas
Para que possa escolher.


Quero estrada conservada
Água, comunicação
Energia e segurança
À minha disposição
Para maior comodidade
E também satisfação.


Não é que seja exigente
Se formos ver, na verdade
Está é a estrutura básica
De qualquer sociedade
Que queira dar a seu povo
Vida com dignidade.


Quero ver tudo limpinho
(Odeio poluição!)
Quero comida bem feita
E boa acomodação
Qualidade nos serviços
Respeito e muita atenção.


Quero me sentir seguro
Contra qualquer ameaça
Para ficar à vontade
Seja no parque ou na praça
Sem temer assalto, roubo
Ou qualquer outra desgraça.


Saiba que a minha vinda
Gera emprego, gera renda
Por isso é muito oportuno
Que o povo compreenda
O meu valor, e então
Da melhor forma me atenda.


Venho de carro ou de ônibus
De avião e até de trem
Seja de que for, chegando,
Quero ser tratado bem
E encontrar os atrativos
Que o lugar diz que tem.


Quem vende gato por lebre
Neste mundo de hoje em dia
Pode até ganhar um pouco
Com tamanha covardia
Mas não dura muito tempo
Porque perde a freguesia.


Sendo assim não anuncie
O que não possa ofertar
Como um hotel sugerindo
Que tem a vista pro mar
- Só na foto! - Fique certo
Isso vai lhe complicar.


Saiba que por minha causa
Existe a preocupação
De cuidar dos monumentos
Que são sempre uma atração
Além de se preservar
O folclore e a tradição.


Ao comprar, ao consumir
Que me venha o preço justo
Porque sei que qualidade
Para existir tem seu custo
No entanto não me explore
Porque isso é muito injusto.


Sei que devo conservar
As belezas naturais
E também não depredar
Os recursos naturais
Para que o patrimônio
Não se esgote jamais.


Eu sei também que não devo
Sujar o meio ambiente
Destruir a fauna e a flora
E não ser intransigente
Só porque uma cultura
Da minha for diferente.


Eu venho pra descobrir
Outros modos de viver
Conhecer outras culturas
Aumentar o meu saber
Além do mais importante:
Gente nova conhecer.


Se tiver um tratamento
Carinhoso e cordial
Devo voltar outras vezes
E fazer comercial
Do contrário jamais volto
E fico falando mal.


Quero voltar satisfeito
Carregando na bagagem
Lembrança de bons momentos
Do lugar, a boa imagem
E conservar na memória
O prazer dessa viagem.


Quero voltar com saudade
Do lugar que visitei
Do povo que conheci
Das paisagens que olhei
Dos momentos que vivi
Das emoções que passei.


Objetos de lembrança
Souvenir, fotografia
São registros de emoções
Vividas a cada dia
Simbolizam meu encanto
Satisfação, alegria.


Responda agora: Quem sou?
Olhe que dei muita pista!
Não é preciso ser gênio
Nem tampouco charadista
Para dizer categórico:
É o meu amigo TURISTA.


FIM


Setembro/1999

quinta-feira, setembro 07, 2006

O Tarado do bisturi


Desde o início de abril
quand
o nos jornais eu li
acompanho atentamente
e escrever decidi
esta história sobre
"O
TARADO DO BISTURI".


Segundo a própria polícia
são mais de duas dezenas
as vítimas desse anormal
que repete as mesmas cenas
com brotinhos e coroas
mulatas, louras, morenas.


No entanto foram poucas
que deram depoimento
por medo, por timidez
também por constrangimento
mas tal omissão atrasa
a prisão do elemento.


Segundo depoimentos
esse bandido safado
tem uns 25 anos
cabelo encaracolado
é moreno, magro e o
seu rosto é arredondado.


Agindo na Zona Sul
no início à luz do dia
entre as dez e as catorze
de forma segura e fria
mas depois também a noite
aos ataques partiria.


Um outro fato importante
que o seu perfil completa
é que ele sempre ataca
de uma forma seleta
bem vestido e arrumado
sobre uma bicicleta.


Na bicicleta vermelha
só ataca esse tarado
aquela mulher que tenha
o traseiro avantajado
ou um par de peitos que
seja bem pronunciado.


Basta só que ele veja
uma mulher bem dotada
cinturinha, ancas largas
e traseira avantajada
perde logo as estribeiras
ataca a pobre coitada.


Se aproxima da vítima
como não quisesse nada
desfecha um golpe cortante
no traseiro da coitada
outras vezes em seu seio
e pedala em disparada.


Prazeres, Boa Viagem,
Candeias e Piedade,
IPSEP, Imbiribeira
são os pontos da cidade
onde ele exercitou
a sua perversidade.


As mulheres que lá moram
há muito não têm sossego
qualquer estranho é suspeito
seja moreno ou galego
e só se acalmarão
quando o tarado for pego.


Até Gretchen que estava
morando aqui neste estado
sentiu que seu patrimônio
estaria ameaçado
voltou pro Sul Maravilha
com medo desse tarado.


Além de perder a Gretchen
que por aqui não mais vem
com esse tarado solto
difícil será também
recebermos a visita
duma Fafá de Belém.


O ataque mais feroz
foi com Valneide Ferreira
atacada em Piedade
ela é cabeleireira
levou 72 pontos
o corte em sua traseira.


Ana Lúcia Nascimento
passou por outro aperreio
ela ia pro colégio
quando o tarado lhe veio
e aplicou sem demora
oito cortes em seu seio.


O pior é que já fazem
02 meses que o bandido
começou os seus ataques
como um louco pervertido
e até este momento
o mesmo não foi detido.


Suspendeu os seus ataques
mas qual será o motivo?
Será que arrependeu-se
desse seu ato nocivo?
ou alguém o encontrou
e não mais se encontra vivo?


Não pode ficar impune
quem pratica tal ação
é necessário encontrá-lo
mostrando à população
que justiça às vezes tarda
mas faltar, não falta não!


Só não quero que arrumem
algum bode-espiatório
e através de "recurso"
que a todos é notório
um inocente confesse
durante interrogatório.


Arrisco dá um pitaco
pelo que eu conclui
matutando sobre o
"Tarado do Bisturi"
suspeito que ele é
na verdade um travesti.


Travesti frustrado por
não ter curvas atraentes
e em suas pegações
sempre perder seus clientes
pra mulheres e "amigas"
de formas proeminentes.


Por isso perdeu o tino
e resolveu se vingar
abandonou as calçadas
parou de desmunhecar
armou-se dum bisturi
para as mulheres marcar.


Uma outra alternativa
que duvidar, não duvido
acho que se trata dum
bondoso e fiel marido
que descobriu de repente
que vinha sendo traído.


E o pior, meu leitor,
a sua mulher ingrata
não levou pra sua cama
um marmanjo de chibata
porém tinha como amante
reboculosa mulata.


Injuriado por certo
com esse golpe profundo
sentiu no sangue ferver-lhe
um sentimento iracundo
resolveu vingar-se de
todas mulheres do mundo.


Será alguém revoltado
com essa moda de agora
da mulherada ofendida
aí pelo mundo afora
pegar o membro do homem
passar faca e jogar fora?


Só sendo assim, pois não acho
que um homem consciente
pratique um ato tão vil
se expondo constantemente
mutilando o corpo belo
duma mulher inocente.


Só após se descobrir
a real identidade
desse obscuro maníaco
que aterroriza a cidade
é que enfim saberemos
do caso toda verdade.


FIM

FICHA TÉCNICA:


Título: O TARADO DO BISTURI
Autor: José Honório


O Tarado do Bisturi foi inspirado em um personagem que no ano de 1995 frequentou os noticiários policiais do Recife (PE), atacando mulheres, normalmente ferindo-as nas nádegas com um objeto cortante, supostamente um bisturi.


Composto por 28 sextilhas, estrofes constituída de 06 versos de 07 sílabas poéticas, com rimas obrigatórias nos versos pares.


♠ ♠ ♠ ♠ ♠ ♠ ♠ ♠ ♠ ♠ ♠


Primeira edição: Timbaúba-PE, Junho/95
Segunda edição: Recife-PE, Setembro/06



domingo, setembro 03, 2006

O Atentado Terrorista e o Desmantelo da Guerra


No próximo dia 11 completarão 05 anos do atentado às torres gêmeas do World Trade Center. Tal acontecimento causou comoção mundial, e os poetas de cordel não poderiam ficar indiferentes, e foram lançadas dezenas de folhetos tratando da tragédia e seus desdobramentos. Eu também fiz o meio. Não me ative apenas as informações jornalísticas, mas busquei registrar algumas narrativas que ouvi nas mesas de bar, na rua e li na internet. Misturando o real com o imaginário. E saiu em folheto ilustrado com xilogravura de Marcelo Soares. Ei-lo:


Que Alá seja por mim
Concedendo inspiração
Como deu a Maomé
No momento do Corão
Para que meus toscos versos
Não tenham fins tão perversos
E nem causem comoção.


Que também receba os halos
Do espírito picaresco
E por meio destas rimas
De um modo pitoresco
Usando a cena sangrenta
Lembre a eles que pimenta
No "olho alheio" é refresco.


Dia Onze de Setembro
De dois mil e um o ano
Oh que manhã desgraçada
Para o povo americano
Que se viu surpreendido
Ameaçado e ferido.
Pelo terrorismo insano.


O World Trade Center
Teve as torres destruídas
Pelos boeings seqüestrados
Guiados por suicidas
Deixando neste atentado
O mundo todo espantado
E milhares sem suas vidas.


Outro avião seqüestrado
No Pentágono caiu
Provocando alguns estragos
Muitos mortos lá se viu
Mas houve maior espanto
É que isso mostrou o quanto
Mesmo a potência é fragil.


Outro aparelho também
Teria destino vil Seguia pra
Casa Branca Foi o que se deduziu
Mas graças aos passageiros
Patriotas verdadeiros
Na Pensilvânia caiu.


Quem age como se o mundo
Tem que ser o seu quintal
Pode até cantar de galo
Se julgando o maioral
Mas esse acontecimento
Fez ver que a qualquer momento
Acaba se dando mal.


Porque "Quem com ferro fere
Com ferro será ferido"
E quem criou o Bin Laden
Hoje está arrependido
Pois pela cobra criada
Terminou sendo mordido.


Enquanto houver vida humana
Neste planeta onde a paz
Sempre foi um bem sonhado
Não se esquecerá jamais
Este dia tão funesto
Pras forças ocidentais.


Mas também será lembrado
Por outro viés da História
E nos guerreiros de Alá
Não sairá da memória
O dia em que o Taleban
Conquistou grande vitória.


E não será esquecido
Pelos órgãos de defesa
Que dentro da própria casa
Amargaram essa surpresa
Mostrando que a grande águia
Voava toda indefesa.


A partir do acontecido
Muita piada se fez
Dizem até que abalou
Um certame de xadrez
Por jogar sem duas torres
O Tio Sam não teve vez.


Bolsa, dólar, economia
Estão na maior derrota
Mexendo em todo mercado
Do galês ao cipriota
A nau está à deriva
Sem carta, porto, sem rota.


Se milhares foram embora
Bilhões hoje aqui estão
A paz merece uma chance
E pede tino e razão
Não cabendo neste instante
Se agir pela emoção.


Como fez Manoel Saraiva
Um português revoltado
Por ser alvo das piadas
Que lhe deixavam humilhado
E resolveu se vingar
Com semelhante atentado.


Escolheu primeiro o alvo
Com prazer especial
Tinha que ser monumento
De importância capital
Pela aparência escolheu
O Congresso Nacional.


Dentre as outras opções
Para a sua ação malsã
Estavam o Pão-de-Açúcar
Também o Maracanã
Nosso Cristo Redentor
E o Cacete de Brennand.


O Alvorada, o Sambódromo
Bem como o Carandiru
O Templo de Aparecida
O Xangô de Pai Edu
O Largo do Pelourinho
E a fábrica da Pitú.


Como agiria sozinho
Pra não chamar atenção
Usou sua inteligência
E chegou à conclusão
Que não tinha muita chance
De roubar um avião.


Pensou, pensou e pensou
E nesse longo pensar
Uma outra alternativa
Conseguiu ele encontrar
Que nas estrofes da frente
Ao mundo vou revelar.


Procurando relaxar
Ele foi para uma praia
Na esperança que uma idéia
De repente do céu caia
Ou então que por milagre
Da sua cachola saia.


E ficou ali sentado
Na areia branca e macia
As mulheres seminuas
Admirava e curtia
Mantendo a concentração
Que a situação exigia.


De tanto olhar para as bundas
Por ali tão abundantes
Num salto gritou: - Eureca!
E por que não pensei antes?
Agora eu sei como faço
Pra vingar-me dos tratantes.


É que reparou nas formas
Dos biquínis que havia
Fio-dental (cordão cheiroso,
Como Lua cantaria)
Mini-tanga... Asa-delta -
Esse aí tem serventia!


Um mês após o atentado
Faria a sua investida
Dia 11 de Outubro
A data bem escolhida
Bem pertinho da grande festa
Da Senhora Aparecida.


Rezou à Virgem de Fátima
Almoçou um bacalhau
Bebeu um vinho do Porto
Após esse ritual
Partiu pra sua vingança
Em nome de Portugal.


Foi atrás duma asa-delta
Que estivesse de bobeira
No maior pique do mundo
Ele saiu na carreira
Pra pegar um bom embalo
Na viagem derradeira.


Controlando o aparelho
Foi à Brasília afinal
Seguindo na direção
Do Congresso Nacional
Na véspera do feriado
Deu-se o desfecho fatal.


Colidiu na torre norte
Num vôo empenado, torto
Registrado na manchete
Lá da Gazeta do Porto:
Atentado português
Fim da tragédia: 01 morto.


E se tivesse escapado
Dessa audaciosa ação
Haveria de morrer
De raiva e decepção
Por seu ato não ter tido
A menor repercussão.


Nem Globo, nem Bandeirantes
Falaram de Manoel
Quanto mais CNN
Que cumpre bem seu papel
Ficou só nas anedotas
E nos versos de cordel.


Foi um, mas bem poderia
Ser milhares ou milhões
Porque uma ação bem simples
Pode tomar proporções
Indo muito mais além
Das melhores previsões.


Do mundo seja extirpado
O que houver de tirania
E o planeta se envolva
Com o véu da democracia
Para as nações serem pródigas
Sem perder autonomia.


Que não se gaste com mísseis
Com balas, com explosivos
Recursos que poderiam
Transformar-se em lenitivos
Aos milhões de desvalidos
Vivendo qual mortos-vivos.


Que o mundo não se consuma
Em nome de um fanatismo
Que cega, que embrutece
Como o fundamentalismo
Ou então pela ganância
Do cruel capitalismo.


Que os jatos não despejem
Por sobre a população
Gases, bombas, bactérias
Mas joguem em profusão
Essências de flores várias,
Amor, paz e união.


FIM