domingo, agosto 26, 2007

Último sábado de agosto: Três alegrias de um cordelista

Sábado, vinte e cinco de agosto. Uma tríplice alegria renova meus ânimos e me faz cada vez mais acreditar na força da poesia popular.

Primeira: A Unicordel classifica mais gente sua (A dupla Adiel-Kerlle) para a final da Recitata (e olhe que foi novamente em primeiro lugar), que juntar-se-ão a Mariane e Altair na grande Festa do Livro, neste domingo, lá na Praça do Arsenal. Agora a torcida é grande para que os quatro mais uma vez sejam vitoriosos e conquistem os primeiros prêmios;

Segunda: Transformo a proposta de oficina de cordel que aconteceria no Instituto Ricardo Brennand numa prosa prazerosa e emocionante sobre o universo do cordel com as quatro participantes inscritas (inclusive Cida, que tinha ido lá apenas para me acompanhar). Muito revelador o depoimento da sergipana Sônia, tanto trazendo suas reminiscências de leitora de cordel nos seus dias de infância na sua cidade natal, Própria, quanto declarando sua emoção em ter participado deste encontro e ter feito uma “viagem” no tempo e na memória. Registro também para a jovem estudante Camila (Cefet-PE), tão entusiasmada com o cordel, e para Áurea, salgueirense funcionária do IRB que sempre se faz presente nas nossas intervenções naquela aprazível espaço cultural. Momento de agradecer a Nicole Cosh pela oportunidade e ao Carlinhos, monitor tão atencioso e prestativo que não deixou faltar nada e nos deixou tão à vontade.

Terceira: Encerrando o dia, a participação da Unicordel na campanha McDia Feliz, na loja do McDonalds da Agamenon Magalhães. Fazendo uma dobradinha com a talentosa banda Sistema Límbico e diante de uma platéia atenta e receptiva, eu e os companheiros Altair Leal, Cícero Lins, Adiel Luna e Felipe Júnior lançamos nossos versos e de poetas consagrados como Chico Pedrosa, Dedé Monteiro, Zé da Luz, Amazan, Daudeth Bandeira, Bráulio Tavares e Vinicius de Moraes. Destacou-se um grupo de jovens garotas que se mostraram encantadas com o nosso trabalho, a ponto de uma delas dirigir-se até nós para dar os parabéns pelo recital que fizemos, cumprimentando-nos um a um.

Pequenas demonstrações de admiração e reconhecimento como estas são fontes de estímulo e ajudam-nos a superar as dificuldades que encontramos ao longo desta jornada de busca da valorização do cordel, da poesia popular.

Daqui a pouco estarei na Praça do Arsenal. Eu, os companheiros da Unicordel e os amigos da poesia, para a grande Festa do Livro. Mais alegrias nos esperam lá.

domingo, agosto 19, 2007

Unicordel fazendo bonito na Recitata!!!!


Mariane Bígio (1º lugar) e Altair Leal (3º lugar) - Unicordelistas
classificados na primeira eliminatória da II Recitata.
(Foto de Susana Morais)


Mercado da Boa Vista. Sábado de muita expectativa e emoção. Primeira eliminatória do Recitata. Chego às dez horas, muitos poetas já presentes, confirmo minha presença junto à organização do concurso e, ao lembrar que meu desjejum só havia sido um copinho de manguzá do Jalon na feira de orgânicos da Praça de Casa Forte, vou até o Bar do Batatinha comer um cuscuz com guisado, pra forrar o estômago e me preparar pra agüentar o rojão do dia.


Mais poetas vão chegando, e seus amigos também, para torcer ou apenas se embebedar com a poesia que o dia promete. E não só com a poesia, porque doses e garrafas de cerveja começam a enfeitar mesas e balcões, inclusive a minha, é lógico! Beto, Batatinha, Leleu, Cristina, Come Quieto e outros mais supridores de bebidas e iguarias também serão coadjuvantes desta festa que se arrasta ao longo da tarde e arrisca entrar pela boca da noite.

Festa para a Unicordel. Entre os quarenta e quatro concorrentes do dia, nove fazem parte do nosso movimento (Honório, Mauro, Ângela, Valério, Evangelista, Cícero, Mariane, Altair e Felipe). Todos fizeram bonito, mandaram bem o recado, deixaram a poesia popular em evidência. Dois sagraram-se vitoriosos e vão pra final (Mariane, em primeiríssimo lugar e Altair, em terceiro), e por uma peinha de nada não emplacamos o terceiro. E Felipe merecia. Mas a peneira era muito fina e concurso tem disso.

A vitória d´A Mãe que Pariu um Mundo foi mesmo justa e merecida. Este primeiro cordel (ainda inédito, mas que possivelmente será lançado na Festival do Livro, domingo próximo) de Mariane tem tudo pra se tornar um clássico (diria até que já é) da poesia popular. Sinto-me feliz em ter colaborado para que ela se envolvesse com esse nosso mundo do verso e entrasse para a tropa da Unicordel. Pena não ter muito tempo pra gente por conta dos estudos e de outras prioridades, mas é um orgulho termos na Unicordel essa jovem, talentosa e bela garota de dezenove anos, sendo ela também um exemplo de renovação no cordel, tanto no que se refere à idade, quanto à presença feminina. Eis alguns trechos deste belíssimo poema:

“Antes era o universo
Um vão negro de dar dó
Tinha nada, só estrelas
Feitas de brilhante pó
Espalhadas pelo Vento
Que então reinava só.

O Senhor do Infinito
Cansou da escuridão
Teve idéia de fazer
A grande rebelião:
Tomou uma das estrelas
E a pôs em sua mão

Disse: estrela! oh, estrela!
Me cansei de ser sozinho
Nem o Vento é meu amigo
Pois é rei e é mesquinho
E também cansei do preto,
Que enegrece meu caminho

Sou Senhor do Infinito!
Quero muito colorir!
O universo é a tela
E de ti há de surgir
A mais prima obra-prima
O Mundo irás parir!

Nessa hora, emocionado
O Senhor lacrimejou
Uma água doce , cálida
Pela face lhe rolou
Pranto-sumo, seiva bruta
À estrela alimentou.

Esta fez-se então mulher
Com os seios volumosos
Com as ancas abarcantes
Os quadris voluptuosos
Já no âmago levava
Os pinguinhos preciosos...

Bem longe da proteção
Daquele que lhe criou
Ela descansava leve
Quando o Vento a rondou:
Sinto falta duma estrela
Acho que Ele roubou!

Amaldiçoada seja,
Tua cria ao nascer!
Vejo brilho no teu rastro!
És estrela, posso ver!
No Mundo que vai chegar
Vis desgraças hão de ter!

O Senhor ao escutar
Acudiu em seu favor
Fez do Vento simples brisa
Pra soprar quando calor
Acalmou a prenha-astral
E beijou-lhe com amor.

De repente houve um estrondo
A mulher soltou um grito...
Uma água caudalosa
Pingou do ventre contrito
Cheia de sal e de vidas
(Eis o Mar aqui descrito)

Logo após a enxurrada
Veio então a dor imensa
Pois o sólido doía
De maneira muito intensa
A mulher acocorou
Fez dos braços uma prensa

Finalmente um grito mudo
Era um “ai” do coração
Uma gota de suor
Gotejou na imensidão
E o Mundo foi expulso
Com enorme profusão...

A mulher aliviada
Ali mesmo adormeceu
Com o peito apertado
Que nem ela entendeu
Queria afagar o Mundo
Tê-lo sempre ao lado seu

O Senhor , pra terminar
Sua imensa aquarela
Fez com a ponta do dedo
Mais uns pontos nessa tela
Fez o Sol, astro maior
Bola de fogo-amarela

E assim o Mundo segue
Com o Mal e com o Bem
Pois a maldição do Vento
Fez-se fato aqui também
Mesmo que sua mãe vele
A tristeza vive aquém

Quase ao fim, urge lembrar
O Mundo é bom em essência
Fruto de vontade pura
Colorindo a existência
Foi nutrido com o líquido
Da bondade em excelência

Há desgraças é verdade
Mas há muita alegria
Seus filhos conhecem dor
Mas o Amor em primazia
Reina no fundo do ser
Em cada um, cada dia.”

Sábado que vem tem mais. Kerlle com Adiel, Madalena Castro, Meca Moreno e Susana Morais. Vamos torcer para que tenha mais unicordelista no domingo, lá na Praça do Arsenal, Recife Antigo, na final do Recitata, que acontecerá durante a Festa do Livro, a partir das 14 horas.

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Em tempo: Além dos nossos companheiros, a poesia popular foi defendida pelos amigos cordelistas Edvaldo Bronzeado, Júnior Vieira e Alberto Oliveira.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Biblioteca do Coque - Barba, Cabelo e Bigode!!

Através do Estuário, blog do camarada Samarone Lima, tomei conhecimento da inauguração da Biblioteca Popular do Coque. Seu relato apaixonado (como sempre) despertou em mim a vontade de também ser cúmplice dessa história. Pensei que o cordel podia ser a ponte e assim aconteceu. Nesta sexta, reconstitui os passos do meu cronista preferido e às oito horas estava lá na Estação Joana Bezerra, esperando alguém que iria me conduzir até a biblioteca onde em seguida eu ministraria uma oficina com os jovens da comunidade. Tirei uma folga do trabalho só pra me presentear com esta manhã prazerosa, falando daquilo que gosto e procurando despertar nos que me ouvem um pouco do encanto que tenho pela poesia popular. Fiz novos amigos, acredito que joguei sementes. E à boquinha da noite, eu e alguns companheiros da Unicordel (João Campos, Susana Morais, José Evangelista e Geraldo Valério) lá estivemos para a inauguração da Cordelteca, o acervo de folhetos de cordel doados pelos unicordelistas e pela Editora Coqueiro. A tarde se despediu embalada por nossos versos e a noite chegou anunciada pelo batuque dos meninos de lá. Fizemos barba (oficina, nada a ver com Samarone), cabelo (recital, também na a ver com Samarone) e bigode (cordelteca).

Parabéns a todos envolvidos com a biblioteca. A prudência de não citar nomes para evitar omissão indesejada fica em segundo plano diante do impulso de registrar a satisfação de ter conhecido Betânia, Rato, Rahyssa, Berg, Thaynara, Amanda e tantos outros.

O sonho de Betânia se espalha nos corações de quem chega perto e certamente há de continuar se expandindo muito além do que se hoje se projeta. Ajudando a realizar outros sonhos, como é o meu de ver o cordel realmente popular, ou seja, no meio do povo.

Queria estar lá novamente amanhã, ouvindo a palestra de Samarone, mas este sábado é dia de Recitata e estarei no Mercado da Boa Vista participando da primeira eliminatória deste concurso. Torçam por mim!